— O que cê tá fazendo, Wolf?
— Esterilizando.
Respondeu o homem grande, branco, de barbas longas e tatuagens enquanto derramava cachaça sobre uma cadeira dessas de universidade. A garota parecia demonstrar, em seu tom de voz, incômodo com os homens ao seu redor e com o que estavam fazendo. Todos estavam bêbados e ela não, era também a única mulher. Talvez por isso estivesse parecendo tão sensual em sua pele branca e cabelos negros em sintonia com os seus seios médios que balançavam enquanto caminhava.
No dia acontecia um encontro nacional de estudantes de História. Por todos os lados pessoas em grupos e barracas. O ambiente estava ótimo, cheiro de maconha. Sobretudo para o lobo, que caminhava sozinho, louco para rasgar qualquer coisa, louco para tirar a roupa.
Ao fundo tocava uma música esquisita e absurdamente excitante, fiquei ligado de súbito enquanto a vocalista gemia sensualmente os versos:
“Au Au Au Au
Você lambendo o meu corpo
É meu homem animal”
— Vou colar ali.
Quando olhei foram convidativos, levantaram um copo e disseram algo que não ouvi muito bem, pois estava concentrado demais no semblante da mulher que dizia “quero ir embora, alguém me tira daqui, pode até ser você, qualquer um”. Obviamente, o lobo me fez imaginá-la nua. A fantasia é incontrolável, e justamente por isso é tão prazerosa, animalesca.
Porém, titubeei no mesmo momento e desviei o olhar para frente mais uma vez, na direção em que caminhava, que já era traçada. Não estava muito a fim de surpresas nem incertezas.
Ali ao redor tantos animais e corpos que falam, um tom de voz qualquer já é o suficiente para se entregarem. Afinal, eu não quero você, só o seu semblante, o seu descontentamento ao falar. Lamber o seu corpo, lamber um corpo, uma presa dissimuladamente difícil, mas que se entrega, adoro.
Nos últimos dias tudo na minha mente gira em torno de caninos e tenho me comportado como um há um tempo: mordo fácil, não largo o osso, sem dono, urinando onde acho que é de minha posse, onde acho que quero que seja meu, chamegando um e outro, e quando trepo com as cadelas, da rua ou de casa, não quero tirar de dentro depois de gozar.
Ficar grudado não em uma mulher, mas especificamente em uma boceta, tem sido quase que um hobby, um hobby doentio e infantil eu diria. Entretanto, as bocas e as línguas tem despertado mais o meu interesse e tenho me comportado nas últimas semanas como Wolf, esterilizando cadeiras com cachaça, desperdiçando a embriaguez em minha própria casa, onde me sentaria e sento. É quase que cuspir no prato que comeu e lambê-lo depois, usar a dor como arte e espetáculo de histeria, completamente superficial, mas não é, pois é completamente diferente, é o contrário!
Do lobo e do homem que só surgem com a lua como amigos de angústia, amigos da angústia, dignos de desprezo. Sendo a alcateia ou os lobos solitários nas montanhas geladas da Noruega, todos dignos de desprezo. Simplesmente pelo motivo de não se importarem com nada e ao mesmo tempo se darem demais. A demasia de solidão: felizes, só querem comer e dormir, por isso caçam de vez em quando. Sua felicidade incomoda, então a minha.
Wolf estava certo e a errada era ela por não estar bêbada.